Uma companheira e tanto

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é cropped-carlos-eduardo-uchoa-1-150x150.pngTardou, mas chegou. No terceiro ano de sua ação mortífera, eis que a Covid  19 me alcançou , sem, contudo , me derrubar.Respeito é bom, e eu gosto. Que, de início ,  com o resultado positivo do teste, me deu medo, lá isso deu. O risco de ser internado,de ficar sozinho , talvez intubado . Nossa! Se morrer, nem direito a velório.

Corro ao médico. O meu, de tantos anos, está com a terrível por um ano já, de casa para o hospital, deste para aquela. Já não ouço a sua voz todo este tempo. Minha insegurança só fez aumentar. Recebido pelo novo doutor, tento passar-lhe a minha apreensão. Afinal, sou paciente de grupo de risco .  Estou a perigo? Após uma rápida conversa, ele tentou acalmar-me. Com esta medicação, o senhor deve melhorar. Surgindo outros sintomas, entre em contato comigo. A tosse advém de estar com uma inflamação na faringe e na traqueia.

De volta para casa, com os remédios, sento-me na minha poltrona , com quem tenho conversês espontâneos.Estou agoniado, lhe disse. Se a infecção desce para o pulmão?  Como vou saber?Era preferível  ter ficado internado. Há sempre um médico de plantão, enfermagem…Uma casa de saúde, ora . Aqui, uma apreensão só: estou com febre? Passei a tossir mais?A medicação entrou logo em cena.  Agora é esperar pela segunda dosagem. Quatro longas horas. Tinha certeza de que a minha poltrona a tudo ouvia. Tantos anos de companheirismo.  Mas o que ela podia fazer por mim, afora o aconchego com que sempre me envolvia?E o aconchego é muito importante. Por consideração, passei a usar máscara por causa dela, Sei lá… Não abro mão da companhia dela.

Noite inquieta aquela. Uma tosse algo diferente, preocupante. Acordado, consegui tomar uma dose dos dois remédios. Não  saí da minha poltrona. Por cinco dias se estendia a medicação. No segundo dia, é verdade , já passava melhor. Sentia a alegria da minha companheira. Muito  mais nova que eu.  Vinha observando que ela estava carecendo de uma roupa nova.  Negligência minha. Às vezes, notava que ela se preocupava com o avançar da minha idade. Sempre solidária .

Ainda bem que a covid , já no terceiro dia, se enfraquecia  no meu organismo. Comecei a me sentir bem disposto, e a alegria tomava conta de mim e de minha companheira. Estamos vencendo, gritei. O medo se atenuava, a disposição tomava conta da  gente.Agora era voltar ao médico e dele receber a palavra esperada: está de alta! Vida normal. Mas continue se cuidando. Esta epidemia não é fácil,.não queira mais enfrentá-la.

Só me restava voltar para casa e festejar a boa nova com aquela que sempre esteve ao meu lado. Acabou o medo, o medo de ser internado, acabaram os constrangimentos de contaminar qualquer pessoa, acabaram certas manias, como a de tirar  a temperatura a toda hora ou a de ficar acompanhando a frequência da tosse. O bom austral da casa se recuperava. Neste clima renovado, logo me lembrei de, no dia seguinte, providenciar uma  roupa nova para a minha amigona.