Já falei sobre ela. Estou ligado à cadeira que mantenho em meu escritório em casa por longo tempo. Não consigo aceitar a ideia de chegar certo dia, certa hora, e ter dela de me separar. Afinal, tudo tem o seu fim.
Como refletir sobre o que vai me despertando divagações de toda sorte sem a sua companhia? Me conhece , pois, muito bem, em minhas inquietações, delírios, sonhos,desejos. Ah, meu mundo interior, sempre tão inquieto, tão imprevisível, tão contraditório. Será possível sobreviver, no dia a dia, sem a sua presença, noite e dia , e madrugadas, sustentando o meu corpo e o meu pensar e sentir?
Às vezes, não poucas vezes, seu companherismo parecia me impulsionar a dela me levantar e ir à luta, voltar para minha condição de um homem quotidiano, atravessando ruas e mais ruas, assinando o ponto de minha jornada de trabalho, confraternizando com amigos e colegas. Alerta para quando a ainda enrustida depressão ameaçava manifestar-se, enfraquecendo o meu desejo de viver a vida .
Chegava a sentir ela apontar para um livro da estante que fosse me ajudar em certo momento mais intrincado de uma pesquisa.Por diversas ocasiões,não me continha e manifestava para mim mesmo que a minha cadeira era um exemplo de companherismo. Tinha a sua própria linguagem, que, com o tempo, eu ia aprendendo e compreendendo.
Porém, o tempo é sempre implacável. Todos, tudo envelhece. Minha cadeira. Sua estrutura, seu forro. Já não dá mais para um reforma que lhe permita sobreviver. Passou a representar certo perigo para nela me sentar. Ainda não encontrei forças para escolher uma substituta para ela.O desenlace fatal e sofrido de uma convivência longa, marcada por um companherismo raro, de entrega espontânea.
Por favor, amiga. Substituir no texto “reflexões “, linha 5, por “divagações ” Um abraço.
Mostrar texto das mensagens anteriores
“Que a gente resista aos diálogos insanos da nossa mente.”