
Há uns bons dias não escrevo nada. Uma simples e breve postagem. Preguiça invencível. É a pandemia, me sopram. Está acarretando desalento nas pessoas, com suas vidas limitadas, poucos contatos, e dificultosos, com os interlocutores separados por máscaras. Muitos parece que só murmuram. Que mundo passou a ser este? Para quem já não ouve bem, a situação fica ainda mais complicada. Logo vem o quase inevitável “o quê ? ” Você não está entendendo o que digo?. Não estou te ouvindo, o que é bem diferente, falo irritado.
Pronto, está me parecendo que encontrei pelo menos um atalho para não deixar de cronicar hoje. Deficiência auditiva. Diferente de surdez , fique claro. Longe da linguagem dos sinais, atualmente bem mais conhecida. Logo, logo, esta deficiência passa a incomodar, afeta o que é fundamental na vida de qualquer um: o diálogo,a conversa, a comunicação.A gente é considerada muitas vezes como pessoa de poucos e raquíticos neurônios.Muito deprimente.E injusto.Tento me valer de certa esperteza e não bancar o chato.
Me ocorre logo a situação de estar à mesa com quatro ou cinco companheiros. Vozes altas, estridentes, gargalhadas…Falas exaltadas e concorrentes.Discussões acirradas mesmo.O deficiente auditivo perdido fica, perdido ficará neste ambiente.Certa ansiedade o incomoda, a tristeza lhe faz acenos. Com mais experiência, sempre essencial no convívio social, vai o surdinho neófito se posicionando diferentemente ante uma gritaria de várias vozes.
Que proveito, pensando bem, alcançar quase sempre desta barulheira, alimentada tantas vezes por certo teor alcoólico dos participantes? Melhor então não entrar na roda. Sensação de solidão. Esboço sorrisos, abano a cabeça para sinalizar fingindo que estou de acordo… Posso apreciar então melhor os atores. Me fazendo a promessa de não repetir tal situação. Conversas só a dois ou três, bem escolhidos os comensais, evidentemente. Outra situação!Que vivência! A vida assim vale a pena. Solidariedade, compreensão mútua, prazer mesmo de estarmos ali juntos. Encontro de almas que revigora nossas vidas.
Pode se dar também que , ouvindo o que é dito, um companheiro fala algo depreciativo de um grande amigo, amigo-irmão, julgando que eu não escutaria.Uma vez surdinho, sempre surdinho.Finjo mesmo não ter percebido o falado. Mas fico sabendo de uma avaliação de que não gostei nada, im-pertinente, e que guardarei comigo.
Então, o surdinho vai se safando neste mundo dominado por vozes altissoantes, de discussões tantas vezes estéries, de pouco proveito.Mas…ele também vai perdendo parte de falas valorosas,sábias até, o que o deprime . Segue,no entanto, em sua vida, de olhos bem abertos, de fala fluente e tentando, sempre que possível, entrar na onda sonora de seus interlocutores para não se desconectar muito do mundo conversado. Está dando…