Querido filho

Mais um ano findou. E tantos já se passaram. Nós dois sempre juntos,  no dia a dia desta  vida, tantas vezes difícil , a nos tirar o fôlego, perturbando o nosso bem viver.Mesmo assim estar nela  é uma dádiva. Compartilhá-la há uns bons anos com um filho como você é um aprendizado constante.   Ligados pelo laço criador entre pai e filho, nossa relação se torna assim  de um enriquecimento, diria, divino.

Mas não é sobre a nossa vida em comum que lhe quero falar. Apenas sobre o ano que acaba de findar.   Para mim, que estou sempre atento em você, embora muitas vezes furtivamente, 2021 foi um ano de visível crescimento seu , mormente no seu relacionamento social com o outro, enfim, com a descoberta do outro , com as dificuldades de ambos, seus limites, que são os limites do humano, de todos nós, portanto.A sua visível maior solicitude, aqui e ali, ajudando-me, por exemplo, a carregar a chegada da velhice, me tocou muito várias vezes.

Um filho,quando criança e mesmo quando adolescente, carece da palavra de seus pais, da sua palavra orientadora, ao mesmo tempo amorosa, que sinalize uma trilha a seguir  no cipoal da existência humana.Esta palavra nem sempre vem a ser eficaz , porque  pais têm também seus limites.

Nada mais gratificante para um pai que avaliar o  crescimento humano de um filho.Pois, neste ano que findou, eu tive, mais do que em outros, a clara percepção do seu amadurecimento social.Na noite da passagem de ano, você se sobressaiu no nosso pequeno  grupo , pelas suas intervenções oportunas, esclarecidas e esclarecedoras , graças às leituras que vêm procedendo como leitor assíduo de tantos livros, tão diversificados, que frequenta no seu dia a dia, e graças ao andarilho que é, se inteirando  das curiosidades e dos problemas da cidade em que nasceu e vive.

Numa época, que se estende já por dois anos, em que as conversas rareiam, em que a argumentação se vê suplantada pela imposição ou autoritarismo, uma voz como a sua, em certos contextos, soa a clarear um ambiente em meio a vozes discordantes, apoiadas tantas vezes em preconceitos ou em falsos fundamentos.

Que esta sua  voz , e eu já percebo isto em suas participações quotidianas,  se levante também para amparar o próximo, vítima de uma incompreensão ou de uma precipitada avaliação por parte de um ser humano, que pode ser qualquer um de nós.

Quis aproveitar o final de 2021 e o início de 2022 para me regozijar com você, filho querido  ,  pelo seu crescimento social,  pela sua maior atenção com o outro. Isto só o engrandece. Afinal só assim alcançamos a descoberta do outro, dos outros, companheiros partícipes desta nossa aventura pelo mundo planetário que habitamos .  A socialização de cada um de nós é que dá vida e sustento a qualquer comunidade.

Um beijo em seu coração. Seu pai.