Hoje estou me sentindo como tivesse lá meus noventa anos . Ainda na semana passada, parecia um adolescente, com uma energia exuberante. Andava aos saltos. A vida é assim mesmo, dizia para mim mesmo, procurando uma explicação. Quedas e saltos. Ainda bem, me consolava: já pensou estar sempre se sentindo com noventa anos, sem os ter?Na verdade, que sei eu, uma pessoa pode estar levando a vida numa boa com os seus noventa anos. Quis apenas me valer de dois extremos do tempo de vida por aqui.Crescimento e decréscimo do tempo pela frente Depois, mistério.
O certo mesmo é que ultimamente estou mais para me sentir com os noventa, com a adolescência bem afastada do meu eu emocional. Pudera! Dia após dia, pega um jornal ou vê um noticiário de uma TV. Só desgraça: a pandemia ( a mais geral,é pan-), embates bélicos, políticos se digladiando numa linguagem de corar a maior parte do público, homicídios diários, de que nem as crianças escapam, estupros recorrentes, assaltos habituais aos cofres públicos contra a lentidão da justiça, a raiva que parece perpassar as sociedades, a miséria, a fome…
Nas avenidas e ruas, de muitos localidades, um vazio que entristece e nos põe para baixo, com tanta gente moradores de rua, a suplicar uma ajuda. Certo é que há pessoas, gente boa!, que se reúnem para ajudar a mitigar situações de desespero, fornecendo cestas básicas, roupas e tanto mais.Este lado humano misericordioso também comove, a contrapor-se um pouco à miséria humana que domina tantos países, presente também no nosso, que atravessa um momento dos mais angustiantes de sua história social, econômica, política e ética. Viver está difícil: uma super-vacina?
Como estarão vivendo o dia a dia de suas vidas os de noventa anos e os adolescentes? Os primeiros a sentirem-se na reclusão absoluta de suas casas. Os segundos, muitos deles pelo menos, a sentirem, sufocados, o preço da perda da liberdade, do ir e vir habitual, do medo de serem infectados pelo vírus pandêmico, e por outros vírus: o da violência , o da fome, o do desamparo.