Os filmes que eu vi

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é cropped-carlos-eduardo-uchoa-1-150x150.pngNa minha volta às salas de cinema, vi dois filmes, nacionais os dois. Torcia para gostar deles, afinal, foram três longos anos afastado das telas. Reitero sempre que não sou crítico de cinema. Muito longe disso. Simplesmente tenho o hábito antigo de frequentar as salas escuras. Assim passei a contar com um grau de atenção mais apurado para diferentes componentes de uma obra cinéfila.

Quando me proponho a assistir a um filme nacional, tenho logo a preocupação com a qualidade do som, em razão de  baixa na minha capacidade auditiva. Família muitas vezes nos transmite cada herança! Já me aconteceu não ouvir quase nada de um filme brasileiro. Uma frustração só. Porém, os dois nacionais vistos há poucos dias exibem excelente som.  Não perdi uma só palavra. Dois magníficos e difíceis roteiros.

 O primeiro filme tem o título, talvez estranho de início, “Aos 45 minutos do segundo tempo”, da linguagem futebolística. A película é uma narrativa sobre três amigos idosos. Achavam-se afastados há tempos por circunstâncias de vida. Ao saberem que um deles estava muito mal financeiramente, a ponto de pensar em matar-se , pois a sua antiga cantina , herdada do avô,  tinha falido, os outros dois correram ao seu encontro , para tentar ajudar o amigo, demovendo-o da ideia de suicídio .

Um deles, empresário bem sucedido, levava uma vida de rico. Contudo, sua vida familiar não ia bem. Pesava sobre ele a dedicação apenas aos seus negócios. O outro, para surpresa dos amigos, se tornara padre, mas enfrentava dúvidas quanto à sua fé.

Os três retomam o relacionamento entre eles, trocando confidências sobre suas vidas. Resolvem voltar à cidade do interior em que nasceram e foram criados. A cidadezinha se apresenta vazia. O tempo tinha corrido. Os conhecidos de outrora não sobreviveram. Apenas uma jovem, como eles na época, por quem o dono da cantina sempre manifestara forte simpatia. A cidade certamente estava povoada por outra gente, de outra geração, que eles não conseguiam ver. Por isso, o vazio que exibia A visita ao colégio em que estudaram não podia faltar na viagem deles ao passado. Um mundo só de lembranças fortes.  Conservado, mas também vazio. O silêncio do colégio  ,  da cidade , parecia gritar.

A visita à cidade natal, combinaram, seria rápida. Volta no mesmo dia.  Apenas o ex-dono da cantina não tinha por que e para quem voltar. Resolve então ficar por lá. Uma vez sem a cantina , quem sabe , teria enfim, na cidadezinha, a companhia daquela única sobrevivente de seu mundo de outrora. A única que na cidadezinha podia conviver com ele. Eram de uma mesma geração  .

Os três personagens desempenham seus papéis com notáveis desempenhos. Especialmente, o dono da cantina tem em Tony Ramos um artista que ostenta ,  uma vez mais , seu   excepcional talento.O filme, com   vários momentos de forte tensão, procura amenizá-la com cenas de um humor delicioso, que leva a reduzida platéia  a boas risadas.

Muito sugestivo o título do filme. Os idosos estão nos “quarenta e cinco minutos do segundo tempo”, como num jogo de futebol.

O segundo filme que vi , nesta minha volta às salas de cinema, foi um documentário sobre Maria Bethania (“Ninguém sabe quem sou eu “). A narrativa dela ocupa todo o filme, entremeada apenas por canções por ela cantadas em ocasiões diversas.  Bethania exibe não apenas a sua voz e interpretação ,mas o  talento de uma artista excepcional na narrativa que a tem como protagonista.

O texto da narrativa é comovente em diversos momentos. Seu testemunho, por exemplo, das figuras do pai e da mãe me tocou fundamente.  Fala da saudade que nunca deixou de sentir da mãe, com tanta força interior, que sentimos a dor que a invade.  Se mostra  todo o tempo aberta ao expor a sua vida. Uma franqueza tocante, com que envolve a plateia .

“Ninguém sabe quem sou” se mostra o título adequado para o documentário. Pode se dizer que , depois dele, se alcança uma visão bem mais abrangente da vida , em seus diversificados caminhos, desta personagem tão  preciosa da vida cultural brasileira.