A  volta ao cinema

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é cropped-carlos-eduardo-uchoa-1-150x150.pngEnfim, eis que volto às salas de cinema. Depois de mais de três anos. Intermináveis, para quem as frequentava  todo sábado e, vez por outra, uma ida durante a semana . Cinéfilo assumido. Até síndromes de abstinência eu sofri.  Nunca consegui gostar de ver filme pela TV, mesmo com estas novas plataformas, com um marketing poderoso em torno delas. E mesmo recluso em casa pela  pandemia .

Como abrir mão do charme das salas de projeção? Não são luxuosas como algumas de antigamente. Mas ocupam espaços amplos, com até seis salas. E mais: lanchonete , livraria e  muito mais gente , sobretudo nos finais de semana. Posso passar na livraria, mas não compro livro. Nada de sacola para eu carregar. Gosto de ver gente, aquele movimento todo, do encontro com conhecidos, com amigos mesmo. Um cafezinho antes, agarrado ao meu saco de pipoca, não dos grandes, pois sou pequeno, braços curtos, lá vou eu à procura da minha cadeira, previamente garantida pela internet. Tudo muito moderno, mormente para um cinéfilo bem antigo. Mundo digital. Eu , muito analógico ainda.

 Não me sinto lá muito bem com salas lotadas, nem com salas vazias. Abomino os que chegam atrasados, com a sala já escura à procura de seus lugares, falando alto. Desde o momento em que a tela se ilumina, sou todo atenção . Conversê  de vizinhos ao lado, me ponho a olhar firme para eles,  como a dizer : estão aqui por quê?

Finda a sessão, começam na saída os comentários acerca do filme .Tento prestar atenção. Depois, é hora do lanche ou jantarzinho, na lanchonete do espaço que reúne as salas de projeção ou em algum restaurante por perto. Um chopinho ou uma taça de vinho não podem cair melhor naquela hora. Nada de dieta, momento de usufruir a vida. Nada de neuroses. Estas já nos acompanham muito no dia a dia. Geralmente, nos lugares escolhidos para curtir as guloseimas , muita gente a comentar o mesmo filme.

Minha volta às salas escuras me emocionou. Que saudade. Mas me desapontei também. Cadê as pessoas, o público. Sentado na lanchonete , fixei a minha vista na livraria bem à minha frente. Me bateu uma forte tristeza. Onde está aquela livraria, ampla, acolhedora  ,  com os livros mais diversificados? Com tantos leitores percorrendo as suas extensas estantes? A livraria que tanto me cativou ao me receber em alegres noites de autógrafos, no lançamento de meus livros?

Uma volta do cinéfilo, pois, com a tristeza que marcou e ainda marca o período pós-pandêmico. Uma vida diferente para quase todo mundo.  Uma vida de poucas conversas, de muita gente pra baixo tomada de receios vários, com dinheiro contado e um amanhã não otimista.

Ainda assim, a volta à salinha escura valeu. Me fez muito bem. Voltando bem mais à minha vida anterior, com a presença da sétima arte, com que sempre preciso contar.  Nela a gente entra em outros mundos. Nem sempre desejáveis, mas de qualquer modo outros mundos, criados para nos despertar toda gama de sentimentos que povoam a  sensibilidade humana.