Moro no mesmo prédio há muitos anos. Envelheci com ele. Presente ao nascimento de tantos vizinhos, que, anos depois, alguns viriam a se mudar ou a falecer. As pessoas eram, em geral, de bom nível cultural, de trato educado. Reinava mesmo amizade entre famílias vizinhas. Havia discussões fortes em certas ocasiões, como na eleição do síndico ou na proposta, nas assembleias dos condôminos, de reajuste da taxa mensal a ser paga pelos residentes.
Levava-se uma vida relativamente tranquila naquele prédio da agitada Copacabana, ainda que em rua sossegada, prédio onde até hoje moro, em que passei a maior parte da minha vida. Nele nasceram meus dois filhos, nele pretendo comemorar, este ano, 60 anos de casamento, se assim permitir a marcha do tempo. Por que não há de permitir? Falta tão pouco!.
Como em todo prédio, havia as fofocas. Não podiam faltar certos vizinhos; então alguns eram especialmente contemplados. Mas ocorriam também, em encontros casuais, comentários jocosos entre moradores mais próximos. Lembro-me de dois. Uma senhora muito distinta, do último andar: quando a empregada se mantém por muito tempo numa casa não é muitas vezes porque ela é uma boa empregada, mas porque tem uma patroa muito boa. De outra distinta moradora, em comentário hilário: ter marido é muito ruim, mas não o ter é pior ainda.
Nosso vizinho de porta mudou numerosas vezes. Apartamento alugado. Mas sempre tivemos boa gente, sem problemas. Um casal homoafetivo foi nosso vizinho algum tempo. Os preconceituosos, homens em geral, me perguntavam com frequência: como é ter vizinhos assim? Que azar o seu! São escandalosos? Você conversa com eles? Foram vizinhos educados, gentis mesmo, nenhuma reunião barulhenta. Ambos trabalhavam e cuidavam de um tio bem idoso, de um deles, com quem eu conversava às vezes. Ex-professor da Faculdade de Medicina da UFRJ. O tempo não para, se repete isto numerosas vezes. O prédio também envelheceu com o tempo. Atualmente, não conheço muitos vizinhos, tais as trocas de moradores no edifício. O síndico é uma pessoa contratada, que não mora em um apartamento da agora velha moradia da Anita Garibaldi. O certo é que fui feliz aqui, com todas as intempéries da vida de todos nós.