Ao publicar as minhas croniquetas ,vi-me enfrentando um problema logo na noite de autógrafos do meu primeiro livro .Não esperava que alguns dos amigos e colegas, gentilmente presentes, fossem logo me formulando indagações sobre o meu livro. Fui preparado para apenas agradecer a cada um, ao chegar à mesa onde me encontrava, pela presença e para caprichar nos autógrafos. Nada além.
De modo que fiquei surpreso com as perguntas que alguns me formulavam, num momento restrito, dedicado a agradecer e a autografar. Como era um livro de crônicas, livro de estreia minha no gênero, houve, penso eu, um comparecimento acima da expectativa, criando, de início, uma fila algo esticada.Cronista ele? Queremos ver.De que vai tratar? Que estilo adotará?
Uma das primeiras a chegar à minha mesa foi uma professora de Literatura. Como é seu primeiro livro, natural que você se apoiasse mais em certo cronista, como seu modelo, sua maior influência. Posso saber quem foi?
Sabe que não sei. Não tive um modelo. Gosto de vários cronistas, mas não pensei na influência de cada um nos meus textos. Que tal você ler algumas crônicas minhas e me dizer? Esticando a mão para ela, agradeci a presença e lhe dei boa noite. Curto assim, porém delicado, atencioso.Não podia é passar a noite trocando idéias sobre o meu livro. Olha a fila!, dizia para mim.Ela que aumentava – eu detesto qualquer fila. Ficaria tenso com as delongas entre o convidado e eu. Pensei: se não cortar, teremos ensaios de entrevistas.Coitados dos mais velhos nas filas.
Um companheiro dos bancos universitários, após o abraço, logo me indaga :li, na fila, uma das crônicas. Impressão minha ou você recebeu forte influência do João do Rio , ao flanar ele pelo Rio.Amigo, gosto das crônicas dele, mas ser fortemente influenciado por ele? Não sei não.Meu abraço agradecido pela presença.Foi bom te rever. Imagine ficarmos ali divagando sobre João do Rio. E eu?Olha a fila, repetia para mim.
Uma indagação reiterada –antes da leitura do livro!- era de qual cronista maia gostava. De alguns, respondia sempre. Era e é verdade. Boa noite e obrigado. Olha a fila! Sempre atento.
Um conhecido, que chegara a ler duas crônicas, percebeu nelas certo humor machadiano. Que isso? lhe disse. O humor de Machado é só dele. De qualquer maneira, nunca havia passado por esta experiência nas minhas noites de autógrafos. Nos livros de Linguística que lancei não havia indagações.Qual o seu conceito de competência linguística? O senhor já foi estruturalista? Não imagino tais perguntas.
De qualquer maneira, meu primeiro livro de crônicas despertava, mesmo junto a amigos, curiosidade, certa estranheza mesmo.Só me lendo teriam as respostas, variáveis de leitor para leitor.
Minha preocupação com a fila foi que me salvou de uma situação embaraçosa, neurotizante mesmo. Bendita fila! Na verdade, a curiosidade passava a ser minha: que acharão das minhas crônicas? A palavra agora é do leitor.