Não deixo de reconhecer que participar de uma rede social me ocupa às vezes prazerosamente, e já há algum tempo. Nela reencontrei amigos e conhecidos e passei a ter ótimos bate-papos com vários desconhecidos, uns, novos amigos.
Gosto muito de prosear (gosto mesmo!),de trocar idéias e afetos, desataviadamente, sem melindres ou não-me toques, com interlocutores que me parecem interessantes e interessados, abertos para a vida. Valho-me do messenger. Nem sempre encontro evidentemente pessoas que se mostrem assim tão receptivas a conversas, como eu não devo ser para elas, com certeza. Faz parte desta coisa complicada que é a de estabelecer laços afetivos. Mas a vida sem eles, reconheçamos, fica tão pobrezinha!
Gente de perfil bem diverso me solicita amizade na rede social. Como cartão de apresentação, há os que citam os nomes de alguns amigos em comum. Em geral, professores como eu. Tudo bem. Merecem crédito. Mas há os que não dão nenhuma pista, e não são poucos. Ficava cismado, de início. Por que solicitam a minha amizade virtual? Que interesse afinal posso ter para eles? Me indagava. Passado um tempinho, resolvi dirigir uma indagação aos solicitantes.
Feito o convite, perguntava: por mera curiosidade apenas, por que quer ser meu amigo? Vou me ater aos jovens, esticando a juventude até os quarenta anos . Por que não? Uma pessoa com esta idade, atualmente, é um ou uma jovem. Confesso que foi, em geral, com os jovens que as conversas mais se desenvolveram, por eles fui mais procurado. Não é para ficar contente ? Estar em contato com os jovens pode ser rejuvenecedor.
Jovens desconhecidos, de tantos lugares, de perfis bem diferenciados, mas com alguns interesses comuns , inquietações ou dúvidas afins. Mas cada um com sua cabeça. Estabelecido o contato, as conversas com uns jovens passavam a se estender, ou de dia ou à noite. Sem hora certa, não faltando, contudo, quando o diálogo se firmava, disposição dos interlocutores de se fazerem mesmo presentes na troca das mensagens. Comecei a me entreter com tais contatos Era uma jovem do Maranhão, outra de Mato-Grosso, um do Piauí, do Amapá ou da Bahia, sem contar os daqui do Rio e seus municípios.
Cuidados, eu tomei. Combater certo pudor de me mostrar oferecido, foi o primeiro. Ao mesmo tempo, a busca de um equilíbrio de valores que permitisse a igualdade nas relações de camaradagem entre o experiente professor e os jovens desejosos, sequiosos, de falarem, de terem a sua palavra garantida, de compartilharem comigo receios e dúvidas . A maioria não me conhecia. Só de nome , com alguns nem isso. Pelas postagens na rede. No fundo, o professor continuava presente, em seus ideais e atributos formadores. Mas também o amigo zeloso, disposto a ouvir, a trocar. Predispus-me, pois, a estabelecer vínculos fraternos de amizade, atento, no entanto, a não cair no elogio fácil, na lisonja hipócrita.
Cheguei a conhecer três destes jovens pessoalmente, de cada vez um . Nem de início houve qualquer retraimento de um de nós. Eram as conversas que mantínhamos pela rede social, com os mesmos propósitos de camaradagem e de alguns debates acerca da vida, da profissão( nem todos professores), de leituras, da escrita… Fortalecia cada vez mais em mim o sentimento de que a abertura para o diálogo atrai os jovens.
Costumo dizer a alguns destes jovens que são meus ex-futuros alunos. Um se aproximou até de Coseriu , cuja ideologia lingüística adoto há um bom tempo. Convenceu-se por si mesmo.
Mas a vida , em seus trajetos tantas vezes tortuosos, a nos deixarem perplexos, era o tema central de nossas conversas. Só tenho podido dizer aos meus jovens amigos que a vida é mesmo assim, complicada, com avanços e retrocessos, de desanimar muitas vezes .
No meu turno final desta conversa de hoje, só posso passar para vocês, meus jovens, a mensagem do poeta de Itabira:
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar ,amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?