As orquídeas

Caminhando distraidamente pelo bairro , me vejo passando por uma floricultura , bem antiga e  frequentada  por mim em datas que merecem ser comemoradas .  Continuo achando que mimosear alguém com uma flor é sempre um gesto de delicadeza e de carinho para com a pessoinha festejada.

 Verdade é que amo as árvores ,  as plantas e as flores. Como embelezam uma paisagem,  uma cerimônia , uma sala, enfim, a vida. O Aterro do Flamengo , quando é avistado de longe ou quando atravessado mais devagar, é uma festa para  os olhares mais sensíveis. Que variedade de verdes, com suas tantas tonalidades. Que arquiteturas diversas das árvores. No entanto ,  por ele passamos quase sempre distraídos , às voltas  com nós mesmos , os nossos pensamentos, as nossas preocupações, as nossas lembranças, o nosso mundinho, enfim.

 Como perdemos momentos ou flagrantes de pura beleza. Encantamo-nos pouco ao longo da vida? Acaba-se não se tendo tempo para o encantamento, para a sedução pelo belo, tantas vezes a se mostrar diante de nós?

Naquela manhã, percorrendo as flores dentro daquela ampla loja , eis-me fixado num vaso com duas orquídeas isoladas, postas um pouco ao alto. Paixão imediata. Diferentes. Altivas. Lindas. Mistura de um amarelo meio creme com um bordeau. Senti que elas olhavam para mim. Entrei prontamente na loja e mostrei o interesse de comprá-las. Ficaram de me trazê-las em casa. Todo cuidado era pouco. Delicadas, preciosas. Surpresa para a minha mulher. Comemorava-se, 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Data importante, como não?

Vieram num vaso com terra. Era preciso regá-las. Ontem, elas completaram dois meses aqui em casa.  Permanecem em sua altivez e em sua beleza.  Sentiram-se bem acolhidas, admiradas, merecedoras de elogios. Bem tratadas. Destacam-se na sala do apartamento. Devem ficar vaidosas .

Toda manhã, ao acordar e me dirigir à sala, olho logo para elas. Trocamos o nosso bom dia. Permanecem lindas, em suas formas e cores. Uma delas apresenta ligeira inclinação. Fico preocupado. Ficou um pouco abaixo da outra. Porém, parece que elas se dão bem entre si. Assim se fazem companhia .  Acompanho-as dia a dia. Não quero que se sintam sozinhas no mundo. Gostaria muito de saber sobre o que elas conversam. Me flagro sempre com os olhos fixados nelas, ou com meu sorriso de enlevo.Sim, nos comunicamos sim.Sem precisar de ficar bem pertinho delas.Que eu possa,  por algum tempo, lhes dar bom dia ao acordar.

 Bom dia, orquídeas minhas, que um dia eu vi e um dia as trouxe para morar em minha casa. Pouco lhes posso ofertar, eu sei, em troca do encantamento permanente com que me seduzem. Porém, estão postas sobre uma mesa, vistas por todos na sala, partícipes assim do convívio de uma família, que está sempre a admirá-las, desde o sol matinal à calada da noite. Minha vida , passei a senti-la mais cheia de beleza.