Joaquim Ferreira dos Santos, colunista de O Globo, Segundo Caderno, autor da prestantíssima antologia “As cem melhores crônicas brasileiras”(2005 ), na sua crônica de hoje, dia 12 de abril , a propósito de comentar, e lastimar, o fechamento de alguns dos mais tradicionais restaurantes do Rio, como o Cervantes,de Copacabana, ou o Villarino, do Centro da cidade, confessa que, para ele, “ Um homem é feito dos livros, dos abraços e das comidas de sua infância.”
Pus-me a pensar, a memorar. Uma crônica a partir de outra crônica? Por que não?Mais comum do que se pensa. No meu caso, então, como leitor assíduo de outros cronistas… Um gênero que sempre me atraiu, desde Machado. Na verdade, sou leitor fiel de vários gêneros, desde os afastados tempos da minha adolescência, por isso posso afiançar que os livros me ajudaram sim, e muito, a me formar, a pensar o mundo sob prismas distintos, a vislumbrar suas inúmeras formas de beleza, a apurar assim a minha sensibilidade , a penetrar em tão variados perfis humanos , a não me deixar seduzir pelo sectarismo. A partir de um pouco de Lobato, de um Cazuza do Viriato, eis que começam a me chegar os livros e abrirem-se as estantes para organizar uma biblioteca (a minha!), a tomar lugar crescente no meu espaço domiciliar, na minha vida.Sim, posso dizer com convicção que os livros foram essenciais para eu vir a ser o que sou.
Ah!, e os abraços?, lembrados pelo Joaquim Ferreira Santos, o cronista. Viver sem eles , não é possível Há sim os abraços formais, protocolares, sem emoção, quase sem braços. Uma burocracia só. Estes, a gente esquece. Como recordar deles no turbilhão dos abraços apertados, carinhosos, demorados, afagos de não esquecer pela vida afora. ”Abrace seu braço é ao longo do meu abraço”. Que abraços não esquecer? Muitos, em todas as fases e em diferentes situações da vida. Já dizia o compositor: ” O melhor lugar no mundo/ É dentro de um abraço”.
E as comidas caseiras de nossa infância? Marcam mesmo a gente. Afastado de algumas, a vida não para, um dia vamos atrás delas. Naquela casa, no Centro da cidade, vou encontrar aquela paçoca, aquela goiabada cascão, aquele doce de caju, delícias de minha infância. Ou naquele restaurante, vou atrás do inhoque que era feito, lá em casa, não com pouco trabalho. Nada de massa industrial.Mesmo à procura de uma fruta que quase hoje não se vê nas feiras.Se a gula é pecado, de certo vou morrer com ele, pois aprendi, desde criança, que gostosuras assim não dá esquecer.
Tem razão, pois, o cronista : os livros, os abraços e as comidas da infância moldam de certa maneira a nossa existência. Não passo até hoje sem eles.Que continue eu a virar as páginas de livros marcantes , a usufruir dos abraços envoltos de carinho e a me deliciar com as iguarias do ontem da minha vida.