Acordei. Lá fora, o sol. Eu, meio pra baixo. Dormi mal. Inquieto. Dificuldade de me levantar. Desânimo. Forças para viver mais um dia? Ainda deitado, um turbilhão de acontecimentos, palavras e frases repetidas me atordoam. Estresse. Como varrer minha cabeça? Como sair deste momento marcado por um entrechoque de notícias que machucam a gente? Tudo junto e separado.
Jogado na cama, eis que um filme começa a ocupar a minha atenção. Manchetes e manchetes vão se sucedendo para meu espanto. Não dá para ter controle. Vou me enterrando mais na cama. Pego o travesseiro para me defender.
Pandemia . Vírus desconhecido invade o planeta . Sem vacina. Número de contaminados e mortes aumenta. Isolamento social? Ou abertura? Máscara. Distância física entre pessoas. Dois metros. Leitos hospitalares em falta.Respiradores .Cloroquina? Ou Tubaína, para os de esquerda. Entubação. Espirro, tosse, falta de ar, febre. Medo de todos e tudo. Lavar as mãos. Álcool gel. Que estado brasileiro está na frente na corrida virótica? Estava o Rio em sétimo. Agora já em segundo. Vai vencer? O verde-amarelo pode conquistar o pódio mundial. Se vencer, uma rica estatueta de Tánatos . Como as nações se mostraram amigas. Que solidariedade entre elas… Cada uma por si.
Orientação médica da Saúde para usar a Cloroquina. Sem assinatura de um médico. Precisa? Ninguém assinou , ninguém viu.Aceita tomar Cloroquina? indaga o médico .Então assina! . Muitas mortes, poucos caixões. E a indústria brasileira? Nem caixão!Procura-se um Ministro da Saúde. Nenhum à vista.Não serve um militar ?Há muitos. Respeito. Alta patente.
Morre mais um João em comunidade do Rio. Podia ser um Zé. Quatorze anos. Preto, pobre. Brincava apenas. Tiro. Para onde levaram o adolescente? Pais sem informação. Voava num helicóptero. Para onde?Para a morte. Quem deu o tiro fatal? Homem do tráfico ou da polícia?Vamos apurar. Nossa obrigação. Lei é lei. Para todos. Só porque é de comunidade? Nada disso. Somos da lei.
O filme parecia não ter fim. Muitos cenários. Com direito a roteiro e tudo. Diretor? Muitos, ora .Fotografia merecedora de Nobel.O cansaço tomava conta de mim. Não dá mais para aguentar.Me entreguei a Morfeu.