Fui a um dos meus médicos esta semana. Depois de certa idade, as idas a alguns especialistas se tornaram mais frequentes, para quem, evidentemente, pode se tratar graças ao convênio de saúde , que tenho conseguido manter.Triste desigualdade social a do nosso país. Na verdade, a visão, a audição, as pernas, o coração, os pulmões, a pele… A gente envelhece por dentro e por fora. Por isso, a necessidade de vários médicos. Ainda bem que os meus são competentes e dedicados.
Ontem fui a um deles. Cheguei ao consultório com a antecedência de uns vinte minutos. Um edifício só de médicos e dentistas. O prédio, com 10 andares e dois elevadores, um corredor longo para chegar a estes, com plantas vistosas a enfeitá-lo . Perto dos elevadores, numa bancada, dois ou três funcionários atentos e prestativos.
Logo na entrada, há uma porta de vidro, que se abre e se fecha automaticamente. Basta se aproximar dela. Ia entrando , quando do outro lado da porta , saindo, vinha um senhor com a sua bengala, acompanhado por um rapaz, que o segurava pelo braço. Paramos, ele e eu (também, no momento, com uma bengala). Deixei o outro tomar a iniciativa de passar pela porta de vidro. Delicadeza gera delicadeza. Um fazendo um sinal com a bengala para o outro. .Entra o senhor, não, sai o senhor. Assim ficamos por uns instantes. Até que uma senhora, que saía do prédio, se irritou com a demora de estarmos naquela lenga-lenga e, com voz autoritária, esbraveja: vou acabar com esta frescura. Passou pelo senhor , quase o empurrando, e tratou logo de se aproximar da porta, aberta rapidamente.
Resolvi ficar um tempinho em um dos bancos da entrada. Sem celular, diga-se. Não saio com ele. E o medo de ser assaltado?Gente idosa então parece atrair a sanha dos maus elementos. Passei a observar as pessoas que entravam e saíam. Gosto de observar os outros. Não era tanta gente assim. Umas me pareceram preocupadas como um casal mais idoso. Visível o cuidado dele com a companheira, a manifestar um forte incômodo. Fisionomia tensa. A que médico ela teria ido? A maioria dos passantes em contato apenas com os seus celulares. Uma moça falava alto, conversando com alguém, sabe-se lá de onde . Um ou outro, raros, me cumprimentava. Um jovem, com prováveis problemas mentais, era conduzido pelo possível pai. Uma senhora se posta em frente ao espelho e começa a examinar os dentes. E assim caminhava aquela restrita humanidade. A ligação virtual predominava mesmo.
Passados uns quinze minutos, me ia levantando, quando uma bela moça,de chamar a atenção, adentra pelo prédio. Com o seu andar sedutor, me deseja boa tarde e se aproxima dos elevadores. Os três funcionários presentes interrompem mais que depressa o contato com o celular e se voltam para a jovem, se oferecendo para segurar a porta do elevador, ignorando a minha presença em pé ali. Logo se mostraram sem graça comigo e me pediram desculpa por não terem mantido aberta a porta de elevador. Qual nada , lhes disse eu, sorrindo. Um velhinho como eu já não merece servir de companhia de uma mulher tão linda. .E do mundo real, gente , não virtual, como este em que vocês parecem mais viver.