Despedida de uma companheira querida

Em 2013, escrevi para o Blog Uchôa uma croniqueta que intitulei “Uma companheira e tanto”. Quis agora retomar esta crônica para dar-lhe um fim. Certamente possíveis leitores gostariam de saber o  final na relação entre dois companheiros inseparáveis por tão longo tempo, cerca de trinta anos. Ao longo destes anos, eu e minha cadeira, sim uma cadeira!!, tipo sofá, mantivemos uma relação de dois amigos inseparáveis. A maior parte de nossas vidas, sempre juntinhos.

A comunicação se fazia constante entre nós. Ela às vezes me tocava para me apontar um livro da estante de  que estava à procura para uma pesquisa em que me envolvera. Da minha parte, cuidava dela, mantendo sua higiene, comprando almofadas para ela se tornar mais confortável para mim. Com dificuldade para dormir, reclamava eu, irritado, da minha insônia, acariciando-a com minhas mãos. Um aconchego só! Difícil encontrar companheira tão atenta em suas  respostas rápidas de entendimento e meiguice .

Sabemos, no entanto, que a vida e tudo o que dela participa tem um fim, Um dia acontece o desenlace fatal. Tantas vezes muito sofrido, Mormente depois de tantos anos de uma convivência longa, amorosa e muito feliz, então!. Como minha companheira conseguia perceber quando estava eu a entrar numa  crise de depressão, permanecendo desligado do mundo, e…dela. Momentos difíceis de superar.

Chegou, enfim, o dia temido do desenlace de minha companheira. Viveu até muito minha cadeira  Ela estava bem abatida, sua estrutura não mais sustentável, o forro que a envolvia,  muito gasto, toda ela já era merecedora de uma boa reforma há algum tempo. Desleixo meu. Mas como passar uns dias sem ela.? Resolvi entregar-lhe então a um conhecido, que a afastou de mim levada em seu caminhão. Nunca mais a vi, embora alimentasse sempre este sonho. Seria possível sobreviver no dia a dia, madrugada adentro, sem quem sustentasse o meu corpo  já muito extenuado, e a minha  alma sequiosa de nossas conversas e da troca de nossos constantes afetos?