Ia ao meu dentista. Entrei na fila do elevador, que não era longa. Quando chegou a minha vez, pedi a uma senhora, logo atrás de mim, com um gesto, que entrasse na minha frente. Que delicadeza é esta? indagou, com voz forte, a senhora. O senhor está fora de moda. Sim, sou um homem à moda antiga, do século passado, respondi. Fez um gesto espantada.
Tive, tempos atrás, uma reação mais forte com esta mesma cordialidade. Saía da faculdade onde era professor, em Niterói. Estava sem carro. Tinha de pegar a barca. Ao sair do prédio em que lecionava, esbarro numa colega. Vai para o Rio? Sim, respondi. Uma carona? Um sim enfático. No carro, uma conversa centrada nas fofocas da faculdade. Atravessamos a ponte Logo ao chegar ao Rio, ela se dirige a um posto, pois queria encher o tanque de seu carro. Saí do carro num gesto de companheirismo. Amiga, vamos dividir esta grana. O quê, exclamou a colega. Pensa que não posso pagar sozinha? Por que sou mulher? Me sinto ofendida. Desculpe, colega, não tive esta intenção. Era só uma delicadeza.
Voltamos ao carro e chegamos ao nosso destino sem trocarmos uma palavra. Ao sair dele, agradeci-lhe a carona. Fui refletindo até chegar em casa positivamente, sou um homem velho, fora mesmo de moda. O que devem pensar de mim as mulheres com que convivo? Um machista, desconsidera o valor e a fibra das mulheres. Tenho de mudar! Conseguirei? É mesmo para mudar? Vou observar com mais atenção minha fala. Por um tempo não á delicadeza. Por um tempo, por um tempo.