Da Janela aberta

Da janela aberta da clínica onde me submeto a sessões de fisioterapia, deitado num tipo de maca, posso ficar observando bem de perto as árvores circundantes. Chego a me desligar dos movimentos  com que a minha dedicada fisioterapeuta agiliza o meu corpo. Sempre gostei de árvores. Árvores são vida a palpitar, a nos brindar com a sua beleza, a zelar com o seu corpo quando majestoso os nossos frágeis corpos . Tanta gente a abraçar o seu tronco para se sentir energizada. No andar da clínica fico numa posição privilegiada para ver e admirar seus troncos, galhos e folhagens, e até  flores .

Quando bate alguma brisa, me encanta apreciar o movimento das folhagens. Algumas, mais levezinhas, tombam, depois de um voo que eu procuro acompanhar. As tonalidades do verde criam um contraste digno de ser retratado por um artista do pincel. Os galhos, bem separados, como a formar uma figura no espaço  , que eu procuro  definir. As pernas torneadas de uma mulher bem alta? Os galhos resistentes pendem,  quase se tocando as suas folhagens, numa comunicação espontânea.

Observei, um dia , que numa das árvores, em seu tronco,  nascia uma plantinha, frágil, a se segurar, meio assustada, nele  Qual um bebê no colo da mãe.Em pouco tempo, começou a crescer, ganhando  umas pequenas folhas. Não mais a perdi de vista. Crescia sem parar. Certo dia,  apareceu com uma minúscula florzinha. Percebi que ela estava contente,  sequiosa de se mostrar.Outros galhinhos nasciam. Seu corpo ganhava projeção, apontando para o alto . Era uma felicidade só, como se dissesse: não estou bonita? Olhem para mim.

Não é que certo dia banhado pelo sol me pareceu que ela sorria para mim. A surpresa me envolveu. Será possível?Ante a insistência daquele sorriso, me senti como a entrar num mundo mágico. As plantas não falam, nem sorriem, ainda que floridas. O senhor hoje, apesar das dores na coluna, parece estar muito contente, relaxado. É verdade, respondi. Estou melhor. Sem dor, a vida vai ficando mais leve.

Não queria que a fisioterapeuta percebesse aquela troca de olhares. Difícil abrir para outrem que entramos num mundo mágico, o mesmo dos poetas, dos músicos, dos pintores…Me bateu o desejo de pedir umas sessões extras à minha fisio, para com mais frequência estar ali presente. Já ficando ansioso à espera da sessão  seguinte.A flor da plantinha cresceu tanto, que dominava aquele restrito lugar ao meio do tronco da árvore.Felicidade sem conta. A plantinha já podia ser observada por tantos quantos se aproximavam daquela janela e vizinhas.

Pude flagrar assim o começo de uma vida. A luta de uma criaturinha vegetal para sobreviver sozinha, escondidinha na imensidão  do galho de uma árvore, plantada certamente há muito tempo numa rua de minha Copacabana. O amor, a simples expectativa dos frutos de uma relação, a me seduzir, a me transportar para um mundo mágico, sem dor, sem burocracia, só de beleza  a exibir.