Já confessei algumas vezes que a sala de aula sempre foi para mim um espaço mágico. Mesmo aposentado, não morreu em mim esta sensação. A magia ficou magia. Afastado da minha ação docente, estou sempre evocando vários dos momentos que naquele espaço me alentavam.Saudade que bate forte. A primeira aula. Como esquecê-la? E tantas outras!
Cursos para diferentes finalidades, alunos de faixas etárias bem distintas, desde o antigo ginásio. Poucas vezes a magia não se fez presente. Me lembro de um aluninho, bem pequeno , com os seus onze anos, inteligente como ele só, vivo, afetuoso, já de óculos, que gostava de conversar comigo no recreio. Queria ser escritor. Nunca mais soube dele ao sair eu do colégio. Como a vida vai separando a nós todos.
Mas me lembro também de alguns futuros mestres e doutores, nos cursos de pós-graduação. Um ou outro da minha faixa etária. Até uma aluna do mestrado mais velha eu tive.Um esforço admirável da parte dela para se atualizar.Que tenacidade! Me emocionava até às vezes.Perdi muito tempo, professor.
Relações tão diversas com as centenas dos que foram, em etapas diferentes da vida, meus alunos. Como o professor aprende humanamente. Porém, nele deve haver um ser humano sensível, atento e paciente, por trás de sua competência, pois só haverá prática pedagógica eficiente, se for satisfatória a interação de professor e alunos. Sem esta interação, não há magia.
Surpresas e…frustrações. A gente vai adquirindo com o tempo aquele saber feito, bafejado também, e muito , pela paixão, nunca arrefecida, de ser professor. Aprende a lidar com situações bem difíceis, inesperadas. A magia da sala de aula parece iluminar o professor nesses momentos.
Ao entrar na sala de aula, uma mudança se processava em mim muitas vezes. O cansaço se tornava energia, certo desalento com os entraves da vida lá fora se transformava em expectativa para a mudança. Com muita frequência era tomado pelo entusiasmo, que me esforçava para passar para os alunos.Eu também precisava deles, por que não? , para manter a magia daquele espaço, palco ( um bom professor é um artista) de encontros sempre diferentes, mas sempre um espaço privilegiado para o exercício da mais pura sociabilidade.Porta fechada:só eles e eu. Janela aberta, para não se perder a visão do mundo.
Não podia conceber a ideia de não dar mais aulas, um dia . O contato com os alunos, aquela sala em que tantas mudanças se processavam, aquele espaço com tantos olhos concentrados em você. Uma comunicação direta. Descobrir, eis o ponto, como sintonizar na onda dos meus interlocutores: mistério.